Por que o PIG encolheu
Suponho que a maioria dos que lêem sobre estes assuntos já sabe de números divulgados recentemente pelo Instituto de Verificação de Circulação (IVC) que revelaram persistente queda na tiragem dos três meios de comunicação que hoje são tidos e havidos como cabeças de um setor da imprensa qualificado até por grande parte da classe jornalística como político-partidarizado e golpista.
Refiro-me, sobretudo, aos três diários de maior tiragem no país, que, pela ordem, ainda são a Folha de São Paulo, O Globo e O Estado de São Paulo, mesmo que a queda, conforme a notícia abaixo, tenha atingido a maioria dos jornais de menor porte que, em boa parte, limita-se a repercutir os grandes jornais, sobretudo em termos de viés político-ideológico.
Vejam a notícia.
Não é difícil entender por que essas quedas vêm ocorrendo. O aumento das tiragens de veículos menores e mais independentes da imprensa escrita revela que o fenômeno de encolhimento dos maiores jornais se deve a que se tornaram conhecidos por atuarem como braços parajornalísticos de partidos políticos.
Recentes pesquisas de opinião (Sensus, Datafolha e ibope) mostraram que o governo Lula e seu titular são aprovados por larga maioria até entre a elite do Sul e Sudeste. E aviso que nem discutirei esse assunto com quem antes não tiver lido essas pesquisas... na íntegra.
Como se não fosse bastante, ainda temos um trabalho que vem minando semanalmente a credibilidade da Folha, do Globo e do Estadão. O ombudsman do primeiro veículo, o jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, vem tendo que se render ao baixo nível de práticas jornalísticas do veículo em que atua.
O nível político-partidarizado da Folha, aliás, nos dois principais “concorrentes” é ainda mais baixo, em alguma medida, por mais que, às vezes, tais conteúdos sejam mais honestos, já que Globo e Estadão se empenham menos em mostrar uma inverossímil “isenção”.
Neste domingo, por exemplo, Lins da Silva teve que se render à gigantesca estupidez que foi a celeuma armada pela mídia em torno da criação do blog da Petrobrás e da prática daquele blog de antecipar na internet entrevistas que a empresa concedesse à imprensa.
O titubeante (por querer fazer omeletes sem quebrar ovos) ombudsman teve que pegar mais pesado desta vez, pois essa histeria toda em torno da conduta da Petrobrás teve uma característica que até agora poucos tinham percebido: a maior parte do conteúdo dos jornais impressos já “vaza” para internet no mínimo um dia antes de sua publicação em papel-jornal.
Abaixo, o que diz o ombudsman em sua última coluna dominical (14/06).
MUITO BARULHO POR QUASE NADA
Por Carlos Eduardo Lins da Silva
NINGUÉM precisava ter lido o blog da Petrobras para perceber problemas na reportagem publicada no sábado, dia 6, sobre as relações entre a empresa e a entidade MBC (Movimento Brasil Competitivo).
Expressei assim, na crítica diária que faço das edições deste jornal, minha reação inicial ao deparar-me com a chamada de capa dada a ela: "Francamente, não vejo relevância na informação de que verba da Petrobras foi para ONG que tem seu presidente entre os membros do conselho para que ela esteja na primeira página".
Meu argumento era que em geral a presença de pessoas que ocupam cargos de prestígio em conselhos de organizações como o MBC é apenas simbólica. Como o próprio texto da reportagem informava, o presidente da Petrobras nem participa das reuniões do MBC.
Concluí que "a contratação do MBC pela Petrobras pode merecer críticas, ser denunciada, por diversos motivos. Pelo fato de que Dilma Rousseff e José Sergio Gabrielli participam nominalmente do conselho da ONG, não".
A publicação de cartas do presidente do MBC e da gerente de imprensa da Petrobras no "Painel do Leitor" de segunda-feira confirmou minhas impressões e foi suficiente para eu (e muitos leitores) fechar juízo de valor sobre o caso.
Ao longo da semana, a relação entre a Petrobras e o MBC foi deixada de lado (o que parece confirmar a sua pouca relevância) e o debate, injustificadamente histérico, se concentrou na criação do blog Fatos e Dados pela estatal.
A Petrobras e qualquer entidade ou cidadão têm o direito indiscutível de criar quantos blogs, sites, jornais ou publicações de qualquer espécie que quiserem. Se ela deseja tornar públicas todas as perguntas de jornalistas que receber, também não há nada que a impeça nem legal nem eticamente (em especial se deixar claro a quem se dirigir a ela que vai fazer isso).
Não faz sentido a Petrobras querer editar o conteúdo dos veículos de comunicação. Mas não há problema em ela tornar público material que seja cortado durante o processo de edição feito por esses veículos.
A reação de muitos jornalistas, veículos e entidades à iniciativa foi claramente despropositada. Se alguém pode sair prejudicado pela decisão de revelar as questões de jornalistas antes da publicação das reportagens a que se destinam é a própria empresa, como seu recuo nesse ponto deixou claro: se as pautas exclusivas deixam de ser exclusivas porque a fonte as revela ao público, o mais indicado para quem as produz é não ouvir essa fonte antes de publicar a reportagem.
Do episódio, só há a lamentar que tenha sido mais lenha para atiçar a fogueira do conflito sectário que envenena o ambiente político nacional em prejuízo de todos.
Como vocês sabem, no ano passado me reuni algumas vezes com o ombudsman da Folha. Aliás, até hoje costumamos trocar alguns e-mails, ainda que eu tenha optado por não manter relações de amizade com alguém que, por força de minha atividade neste blog, tenho que criticar freqüentemente.
Quando questionei o Carlos Eduardo sobre o partidarismo da Folha, ele me alegou que o “Otavinho” não seria tucano, o que até hoje me faz ter dúvidas sobre a seriedade com que o ombudsman me trata, até porque ele também gosta de pedir atenção ao fato de que a Folha paga alguém (ele, no caso) para criticá-la.
A criação do cargo de ombudsman pertence a outra época da Folha e outros jornais não adotam ombudsman justamente por isso - porque, de uma vez adotado ombudsman, fica quase impossível descartá-lo sem parecer que se quer esconder alguma coisa. Além do que, se Otavinho edita um jornal que a mera leitura das colunas do ombudsman diz ser partidarizado, Otavinho tem que ter partido.
Se o Carlos Eduardo não sabia, agora sabe por que acho que seu trabalho é titubeante e por que, em certa medida, não me convence.
Mas não posso negar que, se você for lendo coluna por coluna do ombudsman atual da Folha desde que ele assumiu, verá que o conjunto da obra deixa perfeitamente claro o partidarismo daquele jornal e de todos os outros que atuam em linhas até mais radicalizadas politicamente.
Como disse acima, a classe social que mais lê jornal apóia o governo Lula em maioria esmagadora. Apóia mesmo lendo Folha, Globo e Estadão – sem falar no resto do Partido da Imprensa Golpista (PIG). Se mantém e até amplia esse apoio, é porque não acredita na grande imprensa. E, se não acredita, vai deixando de lê-la, como de fato tem feito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário