sexta-feira, 29 de janeiro de 2010


Sociopatas


 



A elegância entre adversários é uma conquista da civilização. Desde séculos imemoriais o homem cultivou essa postura altaneira em qualquer campo das disputas humanas. No futebol, onde se vê freqüentes demonstrações de selvageria, quando um jogador está caído seus adversários chutam a bola para fora, cedendo cobrança lateral, para que o ferido seja atendido. No boxe, se um dos lutadores “vai à lona” o outro também não ataca. Até os duelos eram feitos com um mínimo de respeito entre os contendores.
É doloroso para alguém como eu, que repudia golpes baixos na política – como fiz quando o ex-porta-voz de Fernando Collor, jornalista Claudio Humberto, espalhou notícia jamais comprovada sobre um segundo filho ilegítimo de FHC, ou quando condenei a campanha eleitoral de Marta Suplicy por usar boatos sobre a sexualidade do hoje prefeito Gilberto Kassab –, ler o que li de comentaristas de blogs da mídia de oposição como o de Reinaldo Azevedo ou o de Ricardo Noblat por conta do recente mal-estar do presidente.
Já reproduzi, em outro post, aquilo ao que me referi no parágrafo anterior. Ou seja, ao teor desses comentários desprezíveis de regozijo e de chacota por conta do problema de saúde do presidente da República. Estamos falando de gente que se divertiu com o que aconteceu com ele.
Também a ausência de manifestações públicas de solidariedade a Lula por parte de seus adversários diretos demonstra mais um pouco a que nível se chegou na disputa política no Brasil, ainda que nos continentes americano, asiático ou africano, principalmente, a selvageria opositora seja característica e recorrente na política, em maior ou menor grau, e ainda que não se possa negar que se trata de uma degeneração da luta política que independe de ideologia ou de grupos partidários.
Assusta ver quão baixo tantos são capazes de descer em uma disputa. Sobretudo porque conduta tão chocante pode ser vista sendo adotada por pessoas supostamente “esclarecidas” e de nível social inclusive mais alto do que o da média da população, o que revela que não se trata de ignorância ou de revolta com a vida, mas da mais legitima sociopatia.
Vi, pessoalmente, uma gentil velhinha, culta e “bem de vida”, reagir assim ao saber que Lula sentiu-se mal. Vi um professor universitário. Vi uma enfermeira de pediatria. Enfim, vi pessoas supostamente respeitáveis agindo como animais, pondo para fora seus instintos mais primitivos, ferozes, irracionais, desumanos ao saberem que o objeto de seu ódio adoeceu.
Só de pensar em como essas pessoas são capazes de dar vazão tão impressionante ao seu lado sombrio contra qualquer um que desafie suas idiossincrasias, sinto medo.  Esse tipo de ser humano, conforme vastos estudos  demonstram, pode compartilhar nosso dia a dia. São pessoas perigosíssimas. Esses estudos mostram que, sob as condições “certas”, são capazes de ultrapassar qualquer limite da civilização.
Um excelente exemplo de sociopata é a jovem Suzane Von Richtoffen, garota de aparência angelical e inocente que, com o concurso do namorado e do “cunhado”, assassinou os próprios pais a pauladas enquanto dormiam.
Essas pessoas existem muito mais do que se imagina e todos estamos ao seu alcance. Costumam ser dissimuladas e inteligentes. Muitas vezes, ocupam cargos de relevo em todas as áreas da atividade humana, até porque não medem esforços e limites para “se darem bem”. Muito cuidado, portanto, leitor. Certamente você tem uma ou mais dessas pessoas no seu caminho... Ou até bem mais perto do que isso.






Eu não gostaria de ser Lula

Eu não gostaria de ser Lula


 



Estava eu lá na Capital da República em dezembro passado (participando da Conferência Nacional de Comunicação), em uma conversa informal com um deputado do Democratas (PFL) de São Paulo, quando ouvi dele uma frase inaudita: “Lula só não conseguiu o terceiro mandato porque não quis”.
É verdade. Com a aprovação que Lula tem, muitos deputados e senadores pensariam duas vezes antes de se caracterizarem publicamente como anti-Lulas votando contra o que é um desejo de pelo menos metade dos brasileiros, conforme detectou pesquisa Datafolha em meados do ano passado. Isso sem o popularíssimo Lula querer. Imaginem se ele trabalhasse para aumentar esse percentual...
Por que, então, Lula não cedeu a essa tentação? Seus adversários oficiais e informais, negando-se a reconhecer seu espírito democrático de não alterar as regras do jogo com ele em andamento (como fez seu antecessor na Presidência da República), dizem que é porque ele “sabia” que “não conseguiria”. Garanto a essas pessoas que há muito político da oposição demo-tucana que pensa diferente.
Corte para o presente. Noite do dia 27 de janeiro de 2010 (ontem). O presidente Lula passa mal e é internado no Real Hospital Português de Beneficência (RHP), em Recife, devido a uma crise de hipertensão arterial (18 por 12). O presidente havia cumprido extensa agenda pública.
Os adversários de Lula dizem que ele não faz nada da vida, mas sua agenda é publicada diariamente sobretudo por seus adversários, até para facilitarem que ele seja fiscalizado por alguém que esteja próximo de si, esteja onde estiver. Basta analisar essa agenda para ver seu ritmo de trabalho. É difícil que em algum dia da semana ele não tenha uma agenda pública.
Seus adversários, no entanto, dizem que sua vida é um mar de rosas. “Só se alcoolizando ou se esbaldando em mordomias”, dizem pelas costas e nos blogs, por exemplo. Seria a “gentinha” lambendo os beiços com os privilégios aceitos somente para os doutores.
Vejam o que dizem comentaristas de um dos mais conhecidos blogs da mídia tucana (preservei o português deles conforme o usaram):


Marcia1907 - 28/1/2010
Vai ver que o esforço de segurar a candidata para não cair ladeira a baixo foi o causador da hipertensão. A Dilma deveria estar com remorso, isto sim! 

Csfu - 28/1/2010
Deveria se tratar em Cuba isso sim, afinal, é referencia em ahahahahaha medicina.
Aliás acho que Cuba é mesmo o lugar, veja o exemplo do COMAndante Fidel, mesmo morto parace vivo. rsrsrs 

IPS2 - 28/1/2010
Foi atendido na UPA ? Ele falouu que dava até vontade de ficar doente... bom.... foi atendido, mas foi na unidade de saúde pública ? Ou foi para algum hospital RPIVADO e muito, mas muito, CARO ? 

Eomundogira - 28/1/2010
Estando em Pernambuco, qualquer um pode constatar que o Frevo é mesmo um ritmo intenso. Desaconselhável é ficar obsessivo dançando nesse Frevo sem parar, fazendo muito Carnaval para nada. PS: no caso, Carnaval= espetacularização. 

O_Anti-Virus - 28/1/2010
Ritmo intenso? O luLLu foi a algum baile funk ontem? 

flying - 28/1/2010 - 15:37
hehehe. ritmo intenso de Lula Berzoini? de levantamento de copo cheio de 51? 

Todos os dias, desde 2003, Lula é acusado de tudo nesses jornais, revistas, tevês, internet, rádios. Todos os dias, Lula acorda e vai dormir tentando adivinhar do que o acusarão desta vez. Só nos últimos sete anos e tanto – sem contar a artilharia da mídia contra ele quando estava na oposição –, já foi acusado do seguinte:
1 – Assassinato
2 – Roubo
3 – Perversão sexual
4 – Mitomania
5 – Alcoolismo
6 – Covardia
7 – Deslealdade
8 – Inveja
9 – Arrogância
10 – Burrice
Esqueci alguma coisa? Aliás, será que existe ser humano tão ruim quanto esse Lula que a mídia pinta?
Se cair um teco-teco em algum grotão do país, a culpa é dele. Até pelo que é responsabilidade de seus adversários ele é acusado. Está permanentemente sob tensão, cumprindo uma agenda extenuante, pulando de cidade em cidade, de país em país, mergulhado em reuniões, tentando evitar que o país tenha problemas e lutando para fazer prevalecer suas medidas que seus adversários combatem uma a uma, indiscriminadamente.
Agora eu lhes pergunto: é de estranhar que ele esteja, no mínimo, estressado, e que esse estresse já esteja pesando a um homem de 64 anos? Alguém estranha que o presidente não tenha querido governar por mais tempo? Para mim, toda evidente mordomia que tem qualquer chefe de Estado não compensa uma vida dessas.
Prefiro ser eu mesmo do que ser Lula. Não há preço que pague estar livre para ir aonde quiser, dizer o que quiser, ser dono de mim mesmo. E desconfio de que o presidente anseia por isso. Deve estar contando os minutos para voltar a ser livre.

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