segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O suicídio midiático

Cidadania


Anda rolando de novo por aí uma pregação recorrente de Globos, Folhas, Vejas, Estadões e filiais, de que o governo Lula estaria dando continuidade ao neoliberalismo da era FHC, o que é falso como uma nota de 3 diante da pregação petista de Estado forte e de medidas que o governo Lula tomou para combater a crise financeira internacional.

No auge da crise, se Lula tivesse seguido o receituário então preconizado pelo governador José Serra através de seus jornais, revistas, tevês, rádios e portais de internet, teríamos nos estrepado.

Como se sabe, quando certos blogueiros e jornais, entre outros, publicam posts e editoriais, sabe-se que quem está escrevendo – ou ditando os termos do escrito – é o governador de São Paulo.

Vou lhes dar um exemplo do que digo, de como teríamos nos estrepado se Lula fosse realmente neoliberal e não tivesse tornado o Estado forte para atuar contra a crise, rejeitando as exigências desses jornalões paulistas e cariocas, entre outros, que pregam o neoliberalíssimo “Estado mínimo”.

Todos se lembram de como a mídia e a oposição tucano-pefelê foram contra Lula ter usado os bancos públicos – com destaque para o Banco do Brasil – para suprir a falta de crédito que se instalou no Brasil e no mundo entre setembro do ano passado e, para o Brasil, meados deste ano.

É pelo que vocês lerão a seguir, apesar da monumental campanha difamatória da mídia contra Lula e o PT empreendida entre aquele ano e o anterior, que, em 2006, o presidente se elegeu com votação esmagadora, o que provou que os brasileiros não acreditam mais na mídia.

Os textos reproduzidos abaixo mostram como a mídia se suicida com requintes de crueldade. Divirtam-se.


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FOLHA DE SÃO PAULO, 10 de abril de 2009

Editoriais

BB do PT

Governo Lula evita reformasespinhosas e embarca no espalhafato e no aparelhamento da direção de banco público


O PRESIDENTE Luiz Inácio Lula da Silva diz que a redução do "spread" bancário -a margem entre o custo de captar o dinheiro e a taxa cobrada ao cliente no empréstimo- se tornou "obsessão" pessoal. A ministra Dilma Rousseff também avisou que o governo "não aguenta mais" pedir a redução dos juros.

A preocupação com o destino econômico do país era tamanha nas altas esferas da administração federal que a solução encontrada não poderia ser outra: aparelhar ainda mais o Banco do Brasil. O PT foi convocado para mais uma missão patriótica...

A nova anedota palaciana, disseminada na praça para tentar justificar a troca de comando no BB, não combina com alguns fatos. No período de impacto da turbulência global, o Banco do Brasil foi a instituição que mais reduziu as taxas de juros nos empréstimos pessoais. A taxa mensal, que era de 5,99% em agosto -no pré-crise, portanto-, foi 23% menor no mês passado.

O conjunto de bancos federais seguiu a linha do obcecado presidente da República e liderou, no período, a redução nas taxas de juros e o aumento na concessão de crédito. Esta expansão, aliás, elevou a participação dos bancos públicos no total dos empréstimos concedidos e evitou um tombo no crédito nacional.

O problema é que a teoria da "indução" -segundo a qual os bancos privados, temerosos de perder fatias do mercado, logo iriam aderir à expansão do crédito empreendida pelos públicos- ainda não funcionou. Não funcionou, pelo menos, do modo como seus propagandistas oficiais alardeavam: pois é razoável cogitar que a reação dos bancos privados à crise teria sido mais violenta, no sentido de restringir empréstimos e elevar taxas, não fosse a ação "contracíclica" das instituições públicas.

Seja como for, aumentar a tutela do governo e do PT sobre a direção do Banco do Brasil não vai resolver esse problema -resolverá outros, decerto, atinentes às eleições que se aproximam. Há limites para a ação antirrecessiva dos bancos públicos, e o principal é a responsabilidade fiscal: aventuras nessa seara redundam em contas bilionárias, divididas entre os contribuintes.

Acostumada a colher apenas os louros da bonança, a administração Lula evita assuntos espinhosos que poderiam diminuir o custo absurdo do dinheiro no Brasil. Faz espalhafato com o BB, mas dribla, por exemplo, a necessidade de modernizar o sistema de poupanças obrigatórias e tabeladas. Fundo de Garantia, Fundo de Amparo ao Trabalhador e caderneta de poupança são arcaísmos que direcionam, por força de lei, recursos que pertencem aos cidadãos. Estabelecem pisos artificiais para os juros de mercado, dificultando quedas maiores nas taxas.

A crise chegou ao Brasil há mais de seis meses, sob a forma de um torpedo no crédito, mas até hoje o governo não conseguiu formular um plano ambicioso para livrar o mercado de suas notórias amarras institucionais, concorrenciais e tributárias. Nem mesmo o chamado cadastro positivo -que possibilitaria a oferta de juros mais baixos para bons pagadores- foi aprovado no Congresso.

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FOLHA DE SÃO PAULO, 13 de novembro de 2009

Dinheiro

BB lucra R$ 1,98 bi e aumenta liderança em ativos

DA REPORTAGEM LOCAL

Com os concorrentes privados ainda tímidos no crédito, o Banco do Brasil acelerou a concessão de novos empréstimos no terceiro trimestre e seguiu ganhando mercado.

O BB teve lucro líquido de R$ 1,979 bilhão no terceiro trimestre, 6% acima do registrado no mesmo período de 2008 e 2,3% maior do que no trimestre anterior. O resultado ficou acima do R$ 1,811 bilhão do Bradesco, mas abaixo dos R$ 2,268 bilhões do Itaú Unibanco.

Com a agressividade no crédito e com as aquisições, o BB encerrou setembro com R$ 685,7 bilhões em ativos, bastante à frente do rival Itaú Unibanco (R$ 612 bilhões), que perdeu a liderança em porte no final do primeiro semestre. O Bradesco segue em terceiro, com R$ 485,7 bilhões.

Pela primeira vez, o BB incluiu 50% do Banco Votorantim, comprado em janeiro, que trouxe R$ 45 bilhões.

Mas foi a agressividade do BB na expansão do crédito que mais surpreendeu. O banco ampliou sua participação no crédito de 18,7% para 20,1% de junho para setembro, encostando nos 20% do rival Itaú.

A carteira total de empréstimos do BB, incluindo avais e fianças, ultrapassou em setembro os R$ 300 bilhões, crescendo em ritmo anual de 41,1%, bastante acima dos 16,2% do mercado como um todo.

Na conta, estão os empréstimos feitos pela Nossa Caixa e metade do Votorantim. Descontando-se os dois bancos e os avais, o BB teve crescimento ainda agressivo, de 26%.

"Spread"


Para avançar no crédito, porém, o BB teve reduzidas suas margens de ganho, possivelmente com a redução dos "spreads" [diferença entre juro de captação e repassado ao cliente]. Segundo a Austin Ratings, o retorno sobre o patrimônio líquido, indicador de rentabilidade do acionista, recuou de 28% no terceiro trimestre de 2008 para 23,7% no último trimestre. Mesmo assim, segue acima dos 18,7% de Itaú e dos 20,3% do Bradesco.

Para o presidente do BB, Aldemir Bendine, os bancos privados devem agora avançar com mais fôlego para retomar o espaço perdido. "Como a gente tem condições privilegiadas em relação a custo, qualificação de profissionais, diferenciais em relação à capilaridade, a gente imagina que continue crescendo acima do mercado", disse.

Apesar da forte expansão, o BB não teve piora na qualidade dos empréstimos, principal preocupação dos bancos privados durante a crise. A inadimplência acima de 90 dias dos clientes pessoa física atingiu o pico de 5,9% em março, mas já desceu a 5,2% em setembro. No caso das empresas, os atrasos também recuaram -passaram do pico de 3,2% em junho para 3,1% em setembro.

"O BB cresceu com consignado e veículos, modalidades de baixo risco. Aproveitou o IPI [menor] para emprestar. A compra do Votorantim, forte em veículos, caiu como uma luva", diz Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Ratings.

Após esse crescimento, o BB está hoje com a menor capitalização entre os grandes bancos, o que leva o mercado a cogitar um aumento de capital em breve. Segundo Bendine, o BB ainda tem folga para conceder mais R$ 100 bilhões em financiamentos.

Para elevar o capital, o banco captou US$ 1,5 bilhão em outubro com títulos perpétuos. "O BB deverá fazer em algum momento um aumento de capital", disse João Augusto Salles, da Lopes Filho.

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