quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Fonte: Cidadania

O Haiti é aqui – em SP







Não, a foto acima não é do Haiti. O que você vê é a população de uma das cidades mais ricas do mundo revoltada com uma tragédia humanitária que emula em vários aspectos a do país caribenho.
Dá medo viver hoje em São Paulo. A cidade mais rica do país é, também, a que se tornou uma selva desconhecida onde tudo pode acontecer. Até você morrer afogado, ser soterrado, ter seus bens destruídos em questão de minutos, adoecer por contaminação de enxurradas de água infectada com excrementos e todo tipo de material infeccioso...
Nos jornais e tevês, o prefeito da cidade, Gilberto Kassab, culpa São Pedro e a população vitimada pelo descaso não só da Prefeitura, mas do governo do Estado. A cada tragédia, mídia, prefeito e governador de São Paulo citam novos recordes de precipitação pluviométrica e de lixo atirado nas ruas pela população atingida.
Todavia, a principal causa dessa tragédia foi desnudada por reportagem da jornalista Conceição Lemes no site Viomundo. Conceição mostra que o que aumentou não foi nem o lixo na rua nem o mau humor de São Pedro, mas o descaso das autoridades municipais e estaduais.
As obras de desassoreamento do rio Tietê não estão sendo feitas como deveriam e a coleta de lixo foi reduzida no âmbito do “choque de gestão” tucano-pefelê”. Essa compulsão por interromper obras e acumular recursos em caixa fez com São Paulo o que poderá fazer com o Brasil se essa gente vencer a eleição presidencial deste ano.
Nos bairros de classe média que ainda não foram atingidos, boa parte da população paulistana ainda compra as desculpas do prefeito e do governador, mas a foto acima dá uma boa dimensão do que começa a acontecer nas periferias.
As conseqüências da tragédia humanitária que está se abatendo sobre enormes contingentes de paulistanos ainda não foram totalmente mensuradas. Problemas de saúde pública, aumento da criminalidade, destruição de patrimônio público e privado são apenas alguns dos efeitos colaterais do caos paulistano.
A população está cada vez mais desesperada e começa, na marra, a entender o erro que cometeu em 2004 e repetiu em 2008. A popularidade de Kassab despencou. Na periferia paulistana, é cada vez mais comum ouvir a população dizer que tem saudade de Marta Suplicy.
Na verdade, o que no Haiti precisou de um terremoto para ganhar visibilidade, em São Paulo precisa apenas de uma chuva mais forte. E a causa das tragédias é a mesma tanto no país caribenho quanto na capital paulista: o descaso e a ausência do Estado. Sem falar na corrupção.



Uma mulher na Presidência?

Uma mulher na Presidência?
 



Depois de ler aquilo que a imprensa e o presidente do PSDB, Sergio Guerra, chamaram de “nota oficial do PSDB” de resposta à afirmação da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de que os tucanos pretenderiam acabar com o PAC e com o Bolsa Família, entendi o verdadeiro sentido da candidatura dessa... Mulher.
Eis o xis da questão. A truculência, a insolência, a “valentia” de Guerra parecem condutas daquele marido cachaceiro que chega em casa às três da madrugada e, ao ouvir uma reclamação da mulher, enfia-lhe  a mão no rosto. O tom da “nota oficial” desse sujeitinho, é esse.
E esse é o sentido da candidatura Dilma. O Brasil já elegeu aquele que sofre menos discriminação neste país entre a elite, um operário, um “peão”, como essas elites chamam trabalhadores. Tenho minhas duvidas, porém, sobre se Lula seria eleito se fosse negro ou mulher.
Acho que o Brasil, por incrível que pareça, não é capaz, ainda, de eleger um negro, o mais discriminado entre os brasileiros. Mas talvez o próximo passo seja eleger o imediatamente mais descriminado antes dos “peões”, uma mulher.
Com Dilma, novamente o Brasil romperia um paradigma. Estaríamos indo, aos poucos, rumo à eliminação do absurdo que é um país que tem mais mulheres e negros do que homens e brancos jamais ter elegido presidente um entre a etnia ou entre o gênero que constituem maioria.
Eis que a visão de Lula vai se formando para a sociedade, o simbolismo em o grupo social mais discriminado na política depois dos negros queimar todas as etapas e colocar um membro do gênero feminino no mais alto cargo político da nação, em desafio franco e aberto à vontade do gênero opressor.
Com a sucessiva quebra de paradigmas de opressão e desigualdade que vem ocorrendo no Brasil, caminhamos para um destino que nos espera há séculos, o de uma das maiores nações entre todas estar moralmente à altura de seu gigantismo e de seu futuro de tantas e tão visíveis promessas.

PS: o governador José Serra poderia ser tão corajoso quanto a ministra Dilma Rousseff e enfrentá-la ele mesmo, em vez de mandar seus mastins fazerem o serviço.




Depois do espetáculo

Depois do espetáculo

 


Leiam, abaixo, a nota oficial do PSDB emitida hoje (20 de janeiro de 2010) e assinada pelo presidente do partido, o senador tucano por Pernambuco, Sérgio Guerra.


"Dilma Rousseff mente. Mentiu no passado sobre seu currículo e mente hoje sobre seus adversários. Usa a mentira como método. Aposta na desinformação do povo e abusa da boa fé do cidadão.
Mente sobre o PAC, mente sobre sua função. Não é gerente de um programa de governo e, sim, de uma embalagem publicitária que amarra no mesmo pacote obras municipais, estaduais, federais e privadas. Mente ao somar todos os recursos investidos por todas essas instâncias e apresentá-los como se fossem resultado da ação do governo federal.
Apropria-se do que não é seu e vangloria-se do que não faz.
Dissimulada, Dilma Rousseff assegurou à Dra. Ruth Cardoso que não tinha feito um dossiê sobre ela. Mentira! Um mês antes, em jantar com 30 empresários, informara que fazia, sim, um dossiê contra Ruth Cardoso.
Durante anos, mentiu sobre seu currículo. Apresentava-se como mestre e doutora pela Unicamp. Nunca foi nem uma coisa nem outra.
Além de mentir, Dilma Rousseff omite. Esconde que, em 32 meses, apenas 10% das obras listadas no PAC foram concluídas – a maioria tocada por estados e municípios. Cerca de 62% dessa lista fantasiosa do PAC – 7.715 projetos – ainda não saíram do papel.
Outra característica de Dilma Rousseff é transferir responsabilidades.
A culpa do desempenho medíocre é sempre dos outros: ora o bode expiatório da incompetência gerencial são as exigências ambientais, ora a fiscalização do Tribunal de Contas da União, ora o bagre da Amazônia, ora a perereca do Rio Grande do Sul.
Assume a obra alheia que dá certo e esconde sua autoria no que dá errado.
Dilma Rousseff se escondeu durante 21 horas após o apagão. Quando falou, a ex-ministra de Minas e Energia, chefe do PAC, promovida a gerente do governo, não sabia o que dizer, além de culpar a chuva e de explicar que blecaute não é apagão.
Até hoje, Dilma Rousseff também se recusou a falar sobre o Plano Nacional de Direitos Humanos, com todas barbaridades incluídas nesse Decreto, que compromete a liberdade de imprensa, persegue as religiões, criminaliza quem é contra o aborto e liquida o direito de propriedade. Um programa do qual ela teve a responsabilidade final, na condição de ministra-chefe da Casa Civil.
Está claro, portanto, que mentir, omitir, esconder-se, dissimular e transferir responsabilidades são a base do discurso de Dilma Rousseff. Mas, ao contrário do que ela pensa, o Brasil não é um país de bobos."


Ao contrário do que alguns podem ter pensado, não pretendo responder ao senador tucano. Por que? Simplesmente porque não sou porta-voz nem advogado de defesa de Dilma Rousseff.
Se eu estivesse no lugar dela, desmontaria cada afirmação do tucano. Ele confunde fatos, mente, inventa, omite, exagera, minimiza, enfim, faz tudo o que o modus operandi dessa direita incapacitada latino-americana manda fazer ao atacar.
A questão nem é essa, portanto. É saber o que irá acontecer. É num momento como este que se percebe se um partido tem ou não estratégia. O PT está se defendendo ou está atacando? Creio que quem começou a briga, no nível em que está, foi Guerra nas Páginas Amarelas da Veja. Creio, não tenho certeza.
Sinceramente, confesso que não ficaria batendo boca com Sergio Guerra. Eu o desafiaria para um debate público, ou a quem ele indicasse. Ou, então, não responderia mais aos ataques. Na verdade, nesta segunda opção não teria respondido desde a primeira vez... Ou adotaria a opção anterior.
Enfim, só quero lamentar que seja nesses termos que a campanha eleitoral acontecerá no Brasil. Sabem quem ganha com isso? Ninguém. Se um dos lados, de partida, já criminaliza o outro, chama-o de mentiroso, insulta-o de todas as formas, pouco restará ao debate das propostas para o país. Como debater assunto de tal importância nesse clima?
É evidente que não há criminosos pretendendo disputar a eleição presidencial deste ano. Nem mitômanos. Não dá para travar o debate político nesse nível. Isso é briga de rua. O eleitor não quer saber se Lula enche a cara ou se Dilma é mitômana ou se Guerra é um débil mental; quer saber como influirão na vida dele.
Acho que, neste momento, cabe a todos os que têm um pingo de responsabilidade e desejo de ver este país progredir chamarem a atenção de tucanos e petistas exigindo respeito a nós, eleitores. Não é isso o que espero ver durante este ano.
Também à mídia, quero dizer que não estou interessado em denúncias de última hora sobre Dilma ou sobre Serra. Passamos os últimos sete anos e tanto sendo bombardeados com denúncias-bomba contra um na grande mídia e contra outro na mídia alternativa. Agora queremos saber o que eles pensam sobre cada assunto que nos interessa.
Acho que chegou o momento de este país exigir daqueles que debatem em larga escala os seus rumos que respeitem a platéia, pois esta, ao final, repleta de eleitores que está, irá se pronunciar em definitivo sobre o “espetáculo” que lhe foi oferecido.



O nome da tragédia

O nome da tragédia


 



Para quem tem sensibilidade humana, choca ver que as tragédias humanitárias, depois de milênios de história, ainda continuam acontecendo muito mais entre os negros. Essa tragédia no Haiti apenas confirma a regra.
Há miséria chocante na Ásia, sim, entre orientais ou muçulmanos, mas aonde quer que se vá, para onde quer se olhe no globo terrestre, os negros sempre serão os mais afetados. Sofrem as piores doenças, têm os piores indicadores sociais, suportam as piores discriminações.
Olhem para a África, senhoras e senhores. Ou, se preferirem, olhem para as partes mais miseráveis do Brasil e lá estarão eles com suas peles de ébano e seus olhos faiscando de sofrimento e da mais justa das revoltas.
E a pele nem precisa ser totalmente escura. Na verdade, os descendentes de negros e brancos, de negros e índios, de negros e orientais, enfim, todo aquele que carrega a herança genética da negritude estará sempre entre os mais prejudicados.
E o mais doloroso é que, cientificamente, está provado que a cor da pele e os traços dos negros e seus descendentes decorrem de questões climáticas. A natureza faz com que aqueles que vivem em regiões onde o sol incide de forma mais inclemente desenvolvam pigmentação da pele adequada a enfrentar o clima.
Em suma, o que ajuda a sustentar essa situação é a hipocrisia e a mais perversa desonestidade.
Pequenos contingentes de negros vencem na vida, sim, mas quase sempre no esporte ou nas artes. E há um contingente diminuto que se destaca na academia, na política e em outras atividades mais intelectualizadas.
Mas quando se compara percentuais entre as etnias, o prejuízo aos negros e aos descendentes de negros é gritante.
Tudo advém da discriminação, seja explícita ou dissimulada. As maiores vítimas do nosso péssimo sistema público de ensino ou de saúde, são os negros. E em tudo mais é assim.
As imagens daquela massa de pele escura no Haiti padecendo todas aquelas torturas constituem uma bofetada no rosto da humanidade, uma acusação à etnia branca, que se beneficia da discriminação e da desigualdade decorrentes da cor da pele.
A tragédia no Haiti tem nome, pois. E esse nome é racismo.





O Estado e o Mercado

O Estado e o Mercado



Uma coisa que muitos brasileiros devem estar constatando e que os neobobos não percebem é a necessidade da presença do Estado para impedir abusos de grandes grupos econômicos contra os cidadãos.
Antes de começar, porém, quero sugerir que, se você concluir que é muito pouco a necessária intervenção estatal que descreverei, estarei ao seu lado, mas peço que considere que a questão que ora discuto não é essa.
É óbvio e evidente que o Estado brasileiro se omite em questões da vida nacional como nem nos Estados Unidos acontece, mas tenho indícios de que isso começa a mudar. Enumerar o que não funciona é fácil. Nem se dê ao trabalho. Há muito o que dizer. Agora, se você sabe de alguma coisa que confirma o que digo, se disser o que é acrescentará alguma coisa ao que já se sabe. 
No Brasil, o livre mercado do fim do século XX foi liberado pelo governo anterior para substituir o monopólio estatal. Venderam a telefonia, por exemplo, a dois ou três grupos estrangeiros e estes passaram a dividir o butim entre si prestando péssimos serviços.
Ao investir contra o telemarketing das empresas impondo penalidades a abusos, ou ao impedir a Telefônica de vender Speedy por mau atendimento, o governo simplesmente contrariou o livre mercado tucano-pefelê e isso foi bom. Constatei hoje.
Fiz reclamação à Telefônica devido à péssima conexão de internet que tenho em meu escritório há anos. Disse que em casa tinha a Net e que era muito melhor e iria trocar. De forma inédita e rapidíssima, veio o técnico e resolveu um problema que há anos me perturbava.
A conexão com o Speedy sempre foi um inferno e a Telefônica nunca me deu bola. Agora, como sabe que se não prestar bons serviços estará fora, recebi a bola que me era negada.
O mérito disso não é da concorrência, pois as empresas se acertam e a gente se... Bem, a gente se dá mal. O mérito é da intervenção estatal, ao deixar claro que abusos não serão mais tolerados. E, como constatei no caso em questão, funcionou.  
Essa é uma das diferenças que o Brasil terá que notar entre os dois projetos políticos para si que estarão postos neste ano. Claro que a situação não é ideal, ainda, e que demorará a ser. Mas agora entramos no caminho. Disso eu não tenho mais dúvida.

*
PS: minha filha Victoria foi internada novamente. Hoje, terça-feira, é minha vez de passar a noite com ela no hospital. Não é tão grave como da outra vez, porém. É problema com a alimentação parenteral. Não está fluindo para o estômago dela pela sonda. Victoria foi operada às pressas hoje de novo para refazer o acesso da sonda ao seu estômago, mas passa bem e pode ter alta até quinta. Só que, da noite desta terça até a manhã desta quarta, poderá haver atraso na liberação de comentários, caso eu não consiga arrumar o modem 3G.

Nenhum comentário: