sexta-feira, 18 de maio de 2012

Emiliano José: Veja na CPI, por que não?

Blog  Onipresente 

O Estado democrático não confere privilégios a ninguém. Não deveria. Digo isso a propósito dessa discussão sobre a eventual convocação do jornalista Policarpo Júnior à CPI do Cachoeira – e a depender das averiguações, do próprio Roberto Civita, o todo-poderoso da Editora Abril, a mão que balança o berço da revista Veja.

Do meu ponto de vista, se houver, como há, claros indícios de participação da publicação nos propósitos criminosos de Carlinhos Cachoeira, não há atalhos possíveis para evitar a convocação de um deles, ou de ambos. O jornalista Luís Nassif tem insistido que se esqueça Policarpo Júnior porque o mandante de tudo é Roberto Civita.

É evidente que a discussão sobre o relacionamento dos jornalistas com a fonte não é simples. Lembro-me de um livro que li há muito tempo, de Yves Mamou, em que ele desenvolve a tese de que, longe de os jornalistas manipularem as fontes, são estas que os manipulam. É uma formulação que, em minha opinião, está muito próxima da verdade – ele trata no livro tanto do mundo dos negócios quanto do território da política.

Não há e não pode haver ingenuidade nessa relação, que é sempre um intercâmbio, uma troca. Há, sempre, um toma lá, dá cá – perigoso, tenso, delicado, sensível. E, nesse jogo, o jornalista pode esforçar-se para defender os interesses da sociedade, e não são todos que conseguem esse feito. Há aqueles que se submetem à fonte, aos interesses exclusivos da fonte, e aí, é claro, a notícia verdadeira, ou mais próxima da verdade, é sacrificada. E isso, como sabemos, não é raro.

Essa relação, nos dias de hoje, não pode ser pensada em termos individuais, como se o problema se circunscrevesse apenas à relação entre a fonte e o jornalista. Hoje, os jornalistas saem às ruas com a pauta pronta, com a ideia de provar uma hipótese elaborada na redação. São os editores que guiam os repórteres na sua relação com as fontes, mesmo que cada um tenha suas singularidades. Alguém pode imaginar um repórter de Veja cismando de pesquisar, aprofundar as denúncias contidas no livro do Amauri Júnior sobre as privatarias tucanas? Ora, ora, claro que não. A relação é mediada desde cima – a orientação editorial é que comanda a pauta e a relação fonte-jornalista, e o faz com mão de ferro, que ninguém se engane.

Dito isso, volto a nossa revista. Sabidamente, Veja se dedica, de modo militante, e sem nenhum escrúpulo, a combater o projeto político que o PT comanda no Brasil desde 2003. É uma revista filosófica e politicamente de direita – e nisso não haveria, em tese, nenhum mal. Bastava que fizesse isso observando algumas lições de manuais do jornalismo, que não chutasse tanto, não mentisse de modo tão desavergonhado, não fosse tão irresponsável e, agora podemos dizer, tão murdochiana. Sua visão tão sectariamente partidária – no amplo sentido da palavra, de ter um lado do qual não abre mão – faz com que mande às favas quaisquer escrúpulos e use quaisquer métodos, inclusive criminosos. O que fez Rupert Murdoch senão valer-se da arapongagem? E a Inglaterra soube reagir aos crimes daquele cidadão e suas empresas.

O que fez a revista nessa relação com sua fonte, Carlinhos Cachoeira? Poderia dizer que nos últimos anos tornou-se refém dela. Isso, no entanto, seria pouco. Veja terceirizou a pauta – é fácil perceber, pelo pouco que ainda sabemos, as muitas pautas que a fonte criminosa encomendou à revista, e foi prontamente atendida. Ou como a fonte atendeu a pedidos da revista para usar seus arapongas e construir matérias, verdadeiras ou falsas, muito mais falsas que verdadeiras. Pelas escutas divulgadas, a fonte comemorou tantas vezes o que Veja fazia, tudo previamente combinado. Muitas vezes comemorou com o senador Demóstenes Torres.

E é claro que Veja sabia quem era Carlinhos Cachoeira, a natureza de seus negócios, quem eram seus arapongas criminosos, quem era o senador Demóstenes Torres. Que justificativa há para tal, vá lá, conivência? Que justificativa há para tão íntima convivência? Que justificativa há para acobertar tantos crimes, inclusive contra o erário, que Veja, nos casos que seleciona, no mais das vezes sem critério, diz defender?

A CPI, instrumento que Veja sempre defendeu, é um instrumento do Estado de Direito. É um espaço democrático. Por que o medo da CPI? É só a revista se apresentar, se convocada, e provar que os mais de duzentos telefonemas trocados entre seu jornalista e Carlinhos Cachoeira atenderam aos critérios do bom jornalismo, aos interesses da sociedade. Ou não. E, se não, enfrentar as consequências. Simples assim.

Publicado na revista Teoria e Debate

CPI pede a Justiça o sequestro dos bens de Cachoeira


A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira aprovou nesta quinta-feira (17) um requerimento pedindo que a Justiça determine o sequestro dos bens do bicheiro contraventor.

O pedido será encaminhado à 11ª Vara Federal em Goiânia, onde corre o processo contra Carlinhos Cachoeira, e para o relator da parte do processo que corre no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowsky. O STF trata apenas das partes do processo que investigam deputados e senadores, que dispõem de fóro privilegiado.

A reunião da CPMI aprovou vários requerimentos nesta reunião. Em um deles, definiu-se pela convocação de membros da família de Cachoeira para deporem, assim como o irmão do senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), o procurador-geral de Justiça de Goiás, Benedito Torres.

Jornalista bandido


A Comissão Cachoeira negou um requerimento para requisitar à Polícia Federal todas as gravações telefônicas em que o jornalista Policarpo Júnior, diretor da sucursal da revista Veja em Brasília, se comunica com o grupo de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, assim como ligações entre integrantes da organização nas quais o nome do jornalista é mencionado.

Embora tenha defendido a investigação da relação entre Cachoeira e Policarpo, o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), decidiu declarar que o pedido estaria prejudicado, pois a comissão já aprovou outro requerimento pedindo todas as ligações gravadas pelas operações Vegas e Monte Carlo, em estado bruto. Portanto. os telefonemas mencionando Policarpo estariam nesse material.

Defesa do jornalista por Miro Teixeira –PDT

O jornalista e a revista foram defendidos na sessão pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), que sempre foi o representante das grandes empresas de comunicação no Congresso. Miro quis confundir a reunião com argumentos de que investigar o jornalista contraventor seria uma ameaça a liberdade de imprensa.

De acordo o deputado Paulo Teixeira (MG), o pedido não tem a intenção “de investigar a imprensa” e sim de apurar uma possível conduta inadequada do jornalista. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), também concordou com o resgate das informações e disse que os integrantes da comissão estavam considerando o jornalista “um intocável”. “Parece que tem intocáveis aqui, mas não se enganem, tudo virá à tona”, destacou.

Bons ventos sopram a favor da democracia

Messias Pontes *

Outro fato importante trazido pelos bons ventos é o retorno dos jovens às ruas com muita determinação. Trata-se do movimento Levante Popular da Juventude promovendo o esculacho a torturadores e agentes da repressão em todo o País. Os esculachos – ou escrachos – são ações semelhantes às ações promovidas na Argentina e Chile em que os jovens fazem atos de denúncias e revelações de torturadores da ditadura militar que não foram presos ou julgados.


O Brasil vive momentos favoráveis à ampliação da democracia. Bons ventos sopram nessa direção e trazem consigo fatos alvissareiros, como a instalação da Comissão Nacional da Verdade, a quase seis meses depois da sanção da lei que a criou; igualmente sancionada há exatos seis meses, entra em vigor hoje a Lei de Acesso à Informação, que regulamenta o direito constitucional de acesso dos cidadãos às informações públicas.


Trata-se de um significativo avanço, já que o ex-presidente FHC – o Coisa Ruim – queria que os documentos confidenciais, reservados, secretos e ultrassecretos ficassem eternamente fora do alcance dos cidadãos.

A partir de hoje – e isto é um fato histórico dos mais relevantes – todo e qualquer cidadão poderá acessar informações públicas. Para tanto, precisamos vencer um grande desafio que é a digitalização de todos os documentos, bem como a universalização do acesso à Internet. Isto fará com que os mais longínquos rincões do País sejam beneficiados.

Esses bons ventos trazem também o total desmascaramento da revista Veja, o lixo do jornalismo brasileiro que, infelizmente, ainda é a semanal de maior tiragem no País. O que vimos falando aqui há anos sobre esse órgão canceroso, finalmente está sendo comprovado. E a instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira vai, certamente, trazer à lume o envolvimento da revista da Editora Abril com o crime organizado. Aliás, o deputado Fernando Ferro (PT-PE) enfatiza que a Veja é o próprio crime organizado.
O diretor da sucursal dessa revista em Brasília, jornalista Policarpo Júnior, não terá como negar o seu envolvimento com a quadrilha de Carlinhos Cachoeira, e que esse envolvimento tem a anuência e cumplicidade do senhor Roberto Civita – o Rupert Murdoch brasileiro, que será, também, obrigado a depor junto à CPMI do Cachoeira. Esta é uma oportunidade ímpar para o desmascaramento completo desses crápulas e dos hipócritas amestrados que “veem” censura em toda manifestação de desmascaramento da velha mídia conservadora, venal e golpista.

E na esteira da Veja a Rede Globo será, igualmente, desmascarada. Essa possibilidade está deixando insones os filhos do senhor Roberto Marinho que se apressaram em fazer a defesa de Policarpo Júnior e de Roberto Civita. Aí será o abraço de afogados. A serviço do desmoralizado senador Demóstenes Torres e do contraventor Carlinhos Cachoeira, a Veja manchetava na sua capa uma grande mentira contra o governo Lula e o Jornal Nacional repercutia no sábado e o Fantástico no domingo punha mais molho, suitando durante toda a semana, e assim derrubava um ministro.

Quem também poderá ser desmascarado é o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que blindou o senador Demóstenes Torres e corroborou com as mentiras da Veja levando pessoas competentes e probas à rua da amargura, como aconteceu com o então ministro dos Esportes, Orlando Silva. Gurgel está esperneando, mas terá de depor.

Outro fato importante trazido pelos bons ventos é o retorno dos jovens às ruas com muita determinação. Trata-se do movimento Levante Popular da Juventude promovendo o esculacho a torturadores e agentes da repressão em todo o País. Os esculachos – ou escrachos – são ações semelhantes às ações promovidas na Argentina e Chile em que os jovens fazem atos de denúncias e revelações de torturadores da ditadura militar que não foram presos ou julgados.

Porém o fato mais importante trazidos por esses bons ventos é a real possibilidade da presidenta Dilma Rousseff resolver enfrentar a velha mídia e sugerir ao Congresso Nacional um novo marco regulatório da comunicação. A democratização da comunicação é defendida por todos os setores democráticos e progressistas da sociedade, tendo à frente a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), os 27 sindicatos dos jornalistas do País e o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação – FNDC.

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