terça-feira, 22 de abril de 2008

Por que SP não Melhora

Do blog Cidadania (Eduardo Guimarãres)

Para quem raciocina sobre o interesse público como cidadão e não como torcedor de futebol, se essa pessoa também for atenta aos fatos concordará comigo quanto à seguinte premissa: o Estado de São Paulo, por ser uma das maiores potências econômicas do mundo, superando economicamente dezenas e dezenas de países, deveria ser capaz, se não de promover melhora na vida dos seus cidadãos, ao menos de impedir que ela piore. Não é o que acontece.Durante a década passada, o Estado mais rico da Federação brasileira, responsável por mais de um terço do Produto Interno Bruto do país, viu a vida de seu povo vir se tornando cada vez mais dura. Da Saúde Pública à Educação, com ênfase na Segurança Pública, São Paulo se vê estagnado e, em alguns casos, vai piorando. Chamam atenção, porém, os quesitos Educação e Segurança. O ente federativo brasileiro que dispõe de mais recursos do que qualquer outro, inclusive percentualmente (o que compensa, com sobra, sua maior densidade demográfica), vem apresentando resultados vergonhosos em avaliações nacionais e internacionais sobre qualidade da educação. A Educação pública paulista perde inclusive para as de Estados muito mais pobres e com muito menos recursos. Mas é na Segurança Pública que São Paulo consegue ir piorando a passos largos com o passar do tempo.
Dados extraídos do site da Secretária da Segurança Pública paulista , que recolhi em breve pesquisa que fiz ali, mostram que, a partir de 1997, segundo dos doze anos em que São Paulo vem sendo governado pelo PSDB, aumentou, de forma impressionante, a incidência do pior tipo de crime que pode haver, que é o crime contra a pessoa (assassinatos e lesões corporais). Vejam, abaixo, o gráfico que compus e que mostra como chegamos ao atual nível de insegurança de nossas vidas no Estado que mais recursos tem (proporcionalmente) para investir em Segurança.
Números de casos de crimes contra a pessoa por ano
(comparação de cada ano em relação a 1995)
1995 - 98.491 Gov. Covas - 1º ano 1º governo FHC1996 - 99.062 + 0,58%1997 - 118.307 + 19,84% Gov. Covas - Aprovada reeleição FHC1998 - 130.055 + 32,04% Gov. Covas - Eleição presidencial 1999 - 130.134 + 32,13% Gov. Covas - Maxidesvalorização real2000 - 137.331 + 39,43% Gov. Alckmin - 1º ano - 1º mandato2001 - 130.207 + 32,20% 2002 - 150.522 + 52,83% Gov. Alckmin - Eleição presidencial 2003 - 151.389 + 53,71% Gov. Alckmin - 1º ano - 2º mandato2004 - 145.511 + 47,74% 2005 - 160.924 + 63,38% 2006 - 158.767 + 61,20% Gov. Lembo - Eleição presidencial2007 - 163.555 + 66,06% Gov. Serra - 1º ano - 1º mandato

Outro fato que mostra a catastrófica situação da Segurança Pública em São Paulo é a eclosão de uma verdadeira guerra no Estado em 2006. Uma situação absolutamente inacreditável num Estado em que a Segurança sempre foi um problema menor do que em Estados como o Rio, por exemplo, mas que foi tomado por criminosos com uma velocidade que jamais se viu em parte nenhuma do Brasil. A matéria jornalística abaixo comprova a perplexidade que tomou conta do mundo naquele ano diante do descalabro da Segurança paulista. "Imprensa internacional destaca onda de violência em São Paulo da Folha Online5/05/2006 - 21h28 A recente onda de ataques à polícia no Estado de São Paulo continua merecendo destaque na imprensa internacional. Leia a seguir trechos de chamadas e reportagens de alguns dos principais meios de comunicação do mundo sobre os ataques. Os números de mortos e reféns se desencontram em alguns casos.The New York Times' (EUA) São Paulo vive o quarto dia de violência O site do jornal destaca o quarto dia de violência na cidade de São Paulo. Reportagem mostra foto em que policiais militares inspecionam caminhões em busca de membros do PCC.'Uma onda de ataques do crime organizado no Estado de São Paulo, em que pelo menos 81 pessoas foram assassinadas, a maioria delas policiais, levou escolas, lojas e escritórios fecharem mais cedo e interrompeu o transporte público na terceira maior cidade do mundo nesta segunda.'Financial Times (Reino Unido) Pelo menos 81 mortos em ataques do crime organizado em São Paulo - Edição norte-americana do site noticia a falta de segurança em São Paulo.'O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrou ministros após o quarto dia de ataques do crime organizado a São Paulo, que levaram a vida de pelo menos 81 pessoas, para cobrar uma ação contra o crime organizado e a falta de segurança pública.'Le Monde (França)Novos ataques do crime organizado no Estado de São Paulo - Os atentados ao Estado de São Paulo são destaque no noticiário internacional do site do 'Le Monde'.'Vinte e três pessoas foram mortas na noite de domingo para segunda, e alvos civis foram visados, segundo a imprensa. Entre a noite de sexta e de domingo, as forças da polícia já contabilizavam o número de 115 atentados, que fizeram 55 mortos e 44 feridos.' El País (Espanha) A revolta criminal cobra 80 mortos no Brasil - Site do jornal espanhol manteve o assunto em destaque desde o sábado.'A ofensiva dos criminosos que há três dias desafia o Estado brasileiro de São Paulo deixou 81 mortos, 39 deles membros da segurança pública, segundo o último balanço oficial divulgado nesta segunda. Os ataques são uma represália à transferência de presos de um grupo mafioso a presídios de segurança máxima.'Clarín (Argentina) Continua o clima de pânico em São Paulo: há 81 mortos, 68 ônibus incendiados e 13 bancos metralhados - Os ataques em São Paulo foram destaque no site do jornal argentino desde o sábado. 'A onda de violência começou quando foram transferidos criminosos presos, entre eles o chefe do principal cartel do tráfico no Brasil. Hoje o transporte público esteve paralisado. Segundo a Folha, desde a sexta-feira até hoje [segunda], foram comentidos mais de 180 ataques.' "Os anos vão passando, mas São Paulo não melhora. E não melhora não é só por incompetência das administrações tucanas que vêm sucedendo umas às outras graças a um inexplicável conformismo dos paulistas com a má governança de seu Estado. Não melhora porque, à diferença do que começou a acontecer no plano federal depois que Lula chegou ao poder, a imprensa paulista não fiscaliza e não cobra o governo de seu Estado devido a acordo de natureza desconhecida que se percebe que firmou com o grupo político encastelado no poder local há mais de uma década. Costumo dizer que um dos fatores que está fazendo com que o governo Lula vá tão bem é, apesar dos pesares, a pressão da imprensa. O governo Lula tem que tomar cuidado até para ela não transformar acertos em erros. Assim, esmera-se ao máximo para não ser exposto à execração pública por uma imprensa totalmente partidarizada. E, apesar de essa pressão midiática por vezes chegar a atrapalhar a administração do país, ela inegavelmente produz um efeito benfazejo: obriga esse governo a trabalhar de verdade. Quando políticos como Covas, Alckmin e Serra (os três últimos governadores paulistas) contam com o acobertamento e até com a ovação da imprensa, acomodam-se, pois sabem que o que fazem de ruim será ocultado e o que fazem de bom, será exponenciado. É por isso que São Paulo não melhora.

Retirada de link desta página

Comunico aos leitores que retirei o site do ombudsman da Folha de São Paulo da lista de sites indicados por este blog. Tomei essa decisão depois da leitura da entrevista do novo ombudsman que o jornal publicou em sua edição deste domingo. A entrevista constitui um amontoado de lugares-comuns, de desfaçatez e de bajulação que demonstra que o cargo de ombudsman da Folha deixou de ser sério. Para que se tenha uma idéia, o tal Carlos Eduardo Lins da Silva, no auge de um processo de ataques da grande imprensa aos blogs políticos, diz que blogs são "irrelevantes" sem explicar por que a mídia generaliza sobre todos eles e se empenha tanto em desacreditá-los apesar de "não terem importância".
Escrito por Eduardo Guimarães às 02h32

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