quinta-feira, 24 de abril de 2008

O Caso Isabela


Blog Cidadania - Eduardo Guimarães

Voluntária ou involuntariamente, a mídia está dando uma nova prova de que está muito longe de ter perdido todo seu poder. A última, tinha dado no começo deste ano.

Dizem que os meios de comunicação estão mantendo acesa a catarse em torno do caso Isabella devido a interesses comerciais e econômicos, pois o veículo que não explorar cada detalhe sórdido do caso perderá público.

Pode ser, pode não ser... De uma coisa, porém, tenho certeza: esta é a segunda vez neste ano em que a mídia demonstra a capacidade que tem de levar as massas ao paroxismo da comoção.

Da primeira vez, o ano mal havia começado. A mídia, então, conseguiu fazer os mais suscetíveis agirem como loucos. Daquela vez, porém, além da intenção política de causar embaraços ao governo federal, meios de comunicação, deliberadamente, tentaram mostrar o poder que ainda tinham de pôr gente exaltada na rua.

E mostraram. Jornais, tevês, rádios, portais de internet inventaram que havia uma epidemia de febre amarela no país e, com isso, fizeram gente que não precisava se vacinar contra a doença acorrer desesperada aos postos de saúde para se vacinar, fazendo com que os estoques do medicamento se esgotassem rapidamente e causando um grave problema à Saúde Pública ao encher postos de saúde e de vacinação de gente sadia querendo se proteger contra o que não a ameaçava.

Milhões de pessoas, sem refletir um só instante, agiram como autômatos diante da insinuação de epidemia. Por conta disso, em pouco tempo havia mais pessoas doentes por tomar a vacina sem prescrição médica e necessidade concreta de tomá-la do que pela própria febre amarela. E ao menos uma pessoa morreu por causa disso.

No caso Isabella, não há viés político. Por mais que os "formadores de opinião" se achem espertos, não conseguiram achar uma forma de vincular o governo Lula ao casal Alexandre Nardoni e Anna Jatobá, supostos assassinos da menina. Contudo, conseguiram uma proeza muito maior, ainda que sem potencial político.

Despertar a irracionalidade das massas no caso da febre amarela ainda encerrava uma certa lógica, pois aqueles que se puseram em filas intermináveis para se contaminar com um vírus atenuado desnecessariamente achavam que estavam cuidando da própria saúde ao fazê-lo. No caso Isabella, pessoas de várias partes do país virem para diante das casas dos suspeitos e das famílias dos suspeitos da morte da garota para tentarem agredir a todos, aí já não dá para enxergar um só resquício de lucidez numa atitude dessas.

Quem mantém acesa essa comoção é a mídia com suas manchetes espalhafatosas. No entanto, consegue a proeza de, ao mesmo tempo em que gera comoção, criticar os que agem sob seus efeitos sem que algum deles se pergunte por que são criticados se só estão respondendo ao noticiário.

Na imprensa escrita, por exemplo, ao mesmo tempo em que se vê a foto do casal Nardoni sobre a frase "Foram eles", pode-se ler indignados colunistas bradando contra a insanidade da turba. Nas tevês, ao mesmo tempo em que se pede cautela à população, são dadas a ela carradas de "razões" para não ter cautela nenhuma.

Quando se compara a capacidade da mídia de provocar reações irracionais nas massas com sua absoluta incapacidade de direcionar a vontade política dessas mesmas massas, surge um dilema: por que tanto sucesso numa coisa e fracasso tão retumbante na outra?

Com a palavra, os leitores

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