terça-feira, 29 de abril de 2008


De novo o 3º mandato

do Blog Cidadania - Eduardo Guimarães




O assunto terceiro mandato de Lula, devido à pesquisa CNT/Sensus, volta à baila. Revigorado.

Eu não entendia, e continuo não entendendo, a razão pela qual até o maior beneficiário de uma eventual mudança na legislação eleitoral acha que essa mudança constituiria um "atentado à democracia", mas não posso deixar de considerar que um país que pretende civilizar-se em nível mais profundo não pode depender de um único homem.

Recentemente, perguntei aos meus leitores sobre o terceiro mandato de Lula e cerca de uma centena deles me respondeu. A maioria se disse favorável à re-reeleição do atual presidente.

Não posso negar que tanto essa maioria quanto eu mesmo defendemos que Lula possa se submeter uma terceira vez ao escrutínio da vontade popular por estarmos tomados pela indignação com a postura da mídia e da oposição de manterem sob ataque permanente qualquer possível candidato que ameace o projeto de José Serra de se eleger presidente em 2010.

A paixão é má conselheira, reconheço. E, resignado, sou obrigado a reconhecer que, vez por outra, permito que ela me domine. Porém, com a alma lavada, passada, dobrada e engavetada pela última pesquisa de opinião sobre a popularidade de Lula e sobre como a maioria da população encararia um terceiro mandato dele, sinto-me em condições de voltar ao assunto a salvo da paixão.

Um dos motivos pelo qual uma parte dos contrários ao terceiro mandato se posicionou assim, segundo declarou, foi pesquisa Datafolha divulgada em 2 de dezembro do ano passado. Essa pesquisa dizia que 65% dos pesquisados seriam contrários a que Lula se candidatasse a permanecer mais quatro anos no cargo a partir de 2010. O temor dessas pessoas, segundo constatei, era o de que o presidente sofresse desgaste junto ao eleitorado ao agir como FHC, que se empenhou em mudar a Constituição em benefício próprio.

Analisando friamente a questão, e agora amparado por fatos e não por suposições, dou-me conta de que o brasileiro não vê qualquer ameaça à democracia em manter no poder governantes com os quais esteja satisfeito. FHC fez, em 1998, exatamente o que seu partido diz hoje que seria "golpismo", e a população o reelegeu alegremente. E no primeiro turno. A pesquisa CNT/Sensus só fez confirmar, portanto, que a probabilidade de prejuízo à imagem de Lula, no caso de ele aceitar se recandidatar, é pequena.

Em razão da vida dura que leva o povo brasileiro e da baixa qualidade de seus políticos, este povo tende a querer manter governantes que estejam obtendo sucesso ou nos quais põe suas esperanças. Foi por isso que a maioria dos paulistas aceitou o rompimento da promessa de José Serra de permanecer no cargo de prefeito de São Paulo até o fim de seu mandato, pois achava que ele faria mais por eles num posto mais alto da administração pública, e às favas com a ética.

Aliás, sobre a ética da palavra empenhada, a violação da própria palavra de Serra foi muito mais grave do que seria se Lula disputasse o terceiro mandato. O tucano chegou a registrar em cartório o compromisso de permanecer à frente da prefeitura paulistana e não hesitou em jogar esse compromisso no lixo com amplo apoio da mídia, agora cheia de pruridos sobre a re-reeleição de Lula.

Essa questão ética sobre um governante mudar as regras do jogo com este em andamento - e em benefício próprio -, não faz sentido se for só para o PT. Se os inimigos do terceiro mandato de Lula não viram problemas no que fizeram FHC e Serra, não têm agora a menor moral para apontar o dedo para Lula se ele fizer o mesmo. E, em política, não dá para dar uma de bom samaritano quando se lida com matilhas de lobos.

A questão de fundo, é a seguinte: será que o candidato à sucessão de Lula que for ungido por ele resistirá ao cerco da mídia em 2010? Mesmo com o apoio do presidente, se esse candidato não tiver um forte carisma o povo pode ser convencido de que Serra dará continuidade à obra do petista. Não vejo esse carisma nem em Dilma, nem em Ciro e muito menos em Patrus Ananias.

Alguns dirão que, então, seria a vontade popular que prevaleceria e, portanto, seria democrático e legítimo que o tucano se elegesse presidente. Eu digo que ele se eleger com auxílio de uma campanha imoral e mentirosa da mídia, que já se faz anunciar com os ataques descarados a Dilma Rousseff e a Ciro Gomes (através do irmão dele), seria muito mais danoso à democracia do que deixar que o povo decida, em plebiscito, se quer que Lula possa se recandidatar.

Aliás, acho que um plebiscito seria a única forma aceitável e incontestável para se mudar a Constituição para que Lula pudesse disputar um terceiro mandato.

No mundo ideal, Lula governaria até 2010 e, numa campanha eleitoral limpa, apoiaria o candidato que achasse melhor para continuar sua obra e a oposição apresentaria uma proposta alternativa para o país. A mídia, por sua vez, atuaria como magistrada do processo, tratando de tornar as propostas das duas vertentes políticas o mais inteligíveis que pudesse.

Infelizmente, isso não acontecerá. Daqui até o "fechamento" das urnas eletrônicas em 2010, teremos um processo desonesto, com impérios de comunicação distorcendo fatos e tentando enganar o eleitor, como vêm fazendo há décadas. O país vive, pois, uma situação de anormalidade democrática. E, como se sabe, problemas excepcionais requerem soluções excepcionais
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