sexta-feira, 27 de março de 2009

O ‘furo’ da Record
do blog: Cidadania


A próxima edição do programa Domingo Espetacular, da tevê Record, deverá trazer o que, no jargão jornalístico, costumam chamar de “furo” de reportagem, o prêmio que mais deveria estimular qualquer jornalista, ou seja, o de dar uma notícia de interesse público antes dos outros.
O mais curioso, neste relato, é que o “furo” que deverá ser veiculado naquele programa de televisão poderia ser dado por qualquer outro grande veículo de comunicação, pois muita gente sabia dele, sobretudo a mídia eletrônica, mas nenhum desses meios de comunicação eletrônicos, além da tevê Brasil, quis noticiar.
O “furo” ao qual me refiro, porém, só é furo de reportagem entre os grandes meios de comunicação, entre aqueles meios que atingem quantidades imensas de pessoas, porque, na nossa humilde blogosfera, a notícia que será transmitida para todo o Brasil no próximo domingo, já será velha.
Refiro-me ao Ato Público promovido pelo Movimento dos Sem Mídia diante da Folha de São Paulo no último dia 7 de março, ato este que protestou contra o uso do termo “ditabranda” pelo jornal em editorial de sua lavra publicado no dia 17 de fevereiro.
Na noite desta quinta-feira (26/03), recebi, em minha residência, equipe de reportagem do programa Domingo Espetacular, da tevê Record, para conceder entrevista sobre o Ato do MSM, entrevista que será veiculada, não sei em que medida, no âmbito de reportagem sobre aquele Ato que a emissora transmitirá em horário nobre no próximo domingo, concomitantemente ao programa Fantástico, da Globo.
Pelo Brasil afora, muita gente deverá se surpreender com o que verá na Record, pois por muito tempo não se soube, no grande noticiário nacional, que a sociedade tenha protestado contra algum meio de comunicação sem ser para defender interesses corporativos, por uma causa do interesse de todos como a defesa da democracia.
O protesto contra a “ditabranda” do jornal Folha de São Paulo não foi o primeiro feito pelo Movimento dos Sem Mídia, conforme informei à equipe de reportagem que me entrevistou, e a informei também de que um desses protestos também foi feito contra a sua concorrente, a Globo, e que também nos manifestamos pelo impeachment do presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Gilmar Mendes.
Pude discorrer sobre a geração do processo que desencadeou o Ato Público do dia 7 de março último, sobre as razões e as reações dos leitores deste blog e sobre como aquele movimento começou a ganhar corpo até explodir, primeiro, na blogosfera, e depois, diante da Folha de São Paulo.
Imagino que as vítimas do regime militar às quais pretendi dar voz com a convocação daquele Ato Público também deverão dar seus depoimentos. E, pelo que sei, a Record foi fundo no exame da questão sobre a tal “brandura” da ditadura que vitimou os brasileiros por vinte anos.
Acredito que a Record estará prestando um serviço ao país ao expor o processo que gerou aquela manifestação contra a Folha a pessoas que nem têm idéia do que foi uma ditadura militar que seus pais e avós tiveram que suportar por duas décadas inteiras.
Se a emissora fizer isso – e não me importa por que motivo o fará –, estará de muito bom tamanho. Penso que a sociedade brasileira tem o direito de saber quem são esses grandes jornais, tevês e revistas que hoje arrogam para si o direito de acusar a qualquer um sem provas e o direito de proteger quem bem entenderem por mais provas que existam contra o beneficiário de tal proteção.
O “furo” que a Record dará no próximo domingo poderá não ser aquele furo do jargão jornalístico ao qual aludi no começo deste texto, mas certamente irá furar uma enorme rede de censura dos grandes meios de comunicação, uma rede descomunal que há décadas e décadas encobre tudo o que tais meios querem que fique encoberto, sobretudo o passado deles.

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