segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O que São Paulo inspira

 



Hoje, 25 de janeiro, aniversário de São Paulo, as pessoas lerão textos bonitos e romanceados nos jornais e na internet. Também haverá lamentos e denúncias pela dramática situação da cidade neste mês de janeiro, com inundações que já causam uma crise humanitária por aqui, com milhares de desabrigados e vários mortos.
A este texto caberá missão mais modesta. Qual seja, a de tentar captar o que São Paulo inspira em seus habitantes para que metade deles almeje mudar de cidade – e, ainda assim, não o faça – e a outra metade nem cogite buscar uma qualidade de vida melhor.
Neste ano, essa incoerência dos paulistanos parece maior porque os problemas que as chuvas causam anualmente nesta cidade, aumentaram. As águas estão invadindo as casas sem distinção de etnia e classe social.
Diante da democratização da catástrofe, a mídia, que quando o prefeito e o governador são “amigos” limita-se a atribuir a tragédia das águas a São Pedro e às “administrações passadas”, vem pesando a mão contra o prefeito e ousando criticar o incriticável midiático da política nacional, o governador Serra.
Esse fenômeno acontece porque o apoio do topo da pirâmide social paulistana e da mídia paulista a qualquer governo que se proponha a impedir distribuição de renda, de oportunidades e o uso de dinheiro público para melhorar a infra-estrutura das combalidas periferias da capital, finalmente começa a mostrar como é daninho a todos.
Hoje, completando 456 anos, São Paulo é uma cidade que inspira medo em seus habitantes. Foi isso o que captei no decorrer deste mês, quando passei a estimular qualquer interlocutor daqui a mostrar o que sente sobre nossa cidade.
Descobri, então, que tememos São Paulo, mas, enlouquecidos por um vírus midiático que nos impede de cobrar as autoridades pelo que não têm feito, mergulhamos num conformismo insano, doentio, patético, culpando a nós mesmos pelo que as autoridades não fazem. É uma coisa maluca. Só ouvindo os paulistanos para crer.
Se você não é de São Paulo e acha que estou exagerando, pergunte a qualquer paulistano que conheça se ele se disporia a atravessar a cidade num fim de tarde, ou mesmo a ir a um bairro um pouco mais distante. Pode ser de carro ou de transporte público, tanto faz.
Também pergunte a algum paulistano o que acha de passear por São Paulo de madrugada ou de transportar algum valor pela rua ou de encarar algum hospital público ou de pôr ou ter o filho numa escola pública paulista ou paulistana. Ou pergunte a um de nós o que faz quando começa a chover, estando em casa – saímos desligando aparelhos eletrodomésticos, porque a luz certamente acabará.
O sentimento que brota do paulistano por meio de uma entrevista como essa que propus no parágrafo anterior, é o medo. Temos medo de sair às ruas de nossa cidade e de usar seus serviços públicos. Sobre nós, paira sempre uma angustia, um sentimento de que algo terrível está por acontecer.
Esse sentimento intensificou-se durante o último ano. A crise econômica internacional coincidiu com governos da cidade e do Estado de São Paulo que se pautam por uma ideologia caduca quanto ao papel do Estado, achando que ele deve se omitir mesmo nos momentos nos quais deve induzir em vez de se deixar levar.
Os cortes de gastos que as administrações da capital e do Estado de São Paulo fizeram sob desculpa da crise agravaram sobremaneira a situação de uma cidade que precisava manter os investimentos sobretudo em obras contra enchentes, pois estas produzem verdadeiras catástrofes quando fogem ao controle.
Alguns meses de deliberadas redução na coleta de lixo e economia no desassoreamento do rio Tietê provocaram um aumento escandaloso das enchentes, fazendo as águas chegarem aos bairros dos ricos, que já intuem que essa mentalidade administrativa dos tucanos e pefelês é, de fato, uma ameaça
Uma cidade que inspira medo, portanto. Essa é a São Paulo de 2010. E tudo por obra e graça do preconceito, do egoísmo e da ignorância, desses sentimentos menores que colocaram totais despreparados no comando de administrações complexas como são a Prefeitura e o governo de São Paulo. 




Blogueiro enfermo

Blogueiro enfermo

Atualizado às 10h8m de 25 de janeiro de 2010





Contraí alguma virose e estou de cama, quase pedindo para que Deus me leve, com febre, vômitos, diarréia etc. Devo voltar nesta segunda-feira, espero...

*

Como sempre, amigos e amigas, encontro vocês aqui me apoiando.
Não fui eu que liberei os comentários. Dormi como uma pedra. Venho aqui e encontro um número imprevisto de comentários desejando-me pronto restabelecimento.
Já estou bem. Deve ter sido mesmo essa virose que anda por aí fazendo vítimas.
Creio que peguei o vírus no hospital em que Victoria, minha filha heróica de 11 anos, voltou a ser internada na semana passada.
O que aconteceu foi que a sonda que a criança usa conectada ao estômago para alimentação parenteral, entupiu. Ela foi internada para resolverem o problema e acabou adoecendo.
Naquele ambiente, eu e minha filha fomos vítimas de infecção hospitalar.
O que é estranho é que minha mulher, que ficou muito mais do que eu no hospital, não foi afetada...
Enfim, termino este texto e já começo a escrever um  novo post, sob protesto veemente de familiares, os quais não entendem que escrever,  para mim, é o melhor remédio.





A 'bala de prata' da mídia

A ‘bala de prata’ da mídia


 



A expressão “bala de prata” foi criada para identificar, por metáfora, as denúncias de última hora que a imprensa costuma fazer contra políticos dos quais não gosta às vésperas de eleições, os quais, geralmente, costumam pertencer ao PT, com destaque para Lula. É uma expressão que será registrada nos livros de história.
Essa prática remonta a cerca de vinte anos. Desde então, dificilmente não é usada em qualquer eleição que interesse mais ao controle que a direita exercia e perdeu sobre o país há mais de sete anos. E, por fadiga de material, na eleição presidencial de 2010 essa arma dos conservadores está prejudicada. As razões e as evidências disso são o que este post pretende explicar.
Todos estão vendo, entre desconfiados e perplexos, que a mídia (tevês, rádios, jornais e portais de internet – as revistas da grande mídia ainda relutam em aderir à prática), a partir de meados de 2009, começou a dar notícias desfavoráveis aos tucanos e pefelistas*.
Até o Jornal Nacional passou a dar algumas dessas notícias. Sobretudo depois do desmoronamento do PFL (dito DEM, contra o qual a mídia aceitou usar a expressão “mensalão do DEM”, quando, para o PSDB, era “mensalão mineiro”).
Mas se você, leitor, pegar a Folha de São Paulo deste sábado, por exemplo, cairá de costas. Há vários textos criticando não só Kassab, mas também Serra (!?). A novidade, que raríssimas vezes ocorreu na última década, é a de que, agora, os colunistas do jornal também o criticam
A explicação para tal mudança de atitude está num processo que começa a acontecer de forma mais visível e que a mídia tentou impedir que prosperasse, mas que, ao que parece, não conseguiu.
Dois são os fatores que provocaram esse surto de “isenção” midiática. Um deles foi a sorte – ou o azar, dependendo do ponto de vista. E o outro foi a revolução da internet, que permitiu que discursos políticos e denúncias que sempre foram sufocados pela mídia tivessem como se espalhar.
O azar foi de Serra e de Kassab. As chuvas trouxeram as provas de suas incompetências e mentalidades atrasadas tanto política quanto administrativamente, com seus slogans ultrapassados e obras faraônicas e ineficientes, no melhor estilo malufista, sempre tentando enganar a população confiando no apoio da mídia decorrente de serem de direita.
Ser de direita, há que ressaltar, foi o que levou essa mídia a cometer loucuras como a de o Estadão ajudar a fazer de São Paulo o que ela é hoje apoiando Maluf contra Luiza Erundina nos anos 1990, em eleição para prefeito da cidade.
A mídia ainda resistia a dar a “isenção” que o público exige mesmo com sucessivas pesquisas de opinião, feitas nos últimos sete anos, mostrando que, quanto mais os Marinho, os Frias, os Civita, os Mesquita e seus seguidores batiam em Lula, mais ele ganhava popularidade.
O recado eleitoral da população dado na eleição presidencial de 2006, quando esta população reelegeu Lula depois de a mídia chamá-lo de bandido por dois anos, foi ignorado. E continuou sendo ignorado quando os mais escolarizados passaram a apoiar Lula em maioria mesmo com a mídia batendo nele sem parar.
Durante 2009, mesmo com a pré-candidatura Dilma Rousseff crescendo e se consolidando paulatinamente, Globos, Folhas, Vejas, Estadões  e subordinados continuaram usando todo tipo de golpe sujo contra a ministra e contra o presidente Lula, seu “padrinho político” – falsificaram ficha policial contra ela e acusaram o presidente de maníaco sexual, entre outros.
Pela primeira vez, portanto, ocorre uma inflexão nesse quadro. Notícia veiculada no fim da última quinta-feira de que o instituto Vox Populi detectou queda vertiginosa da intenção de voto em Serra no Rio e, talvez, informações privilegiadas sobre a pesquisa nacional fizeram com que a mídia, nos últimos dias, ficasse cada vez mais “isenta”.
O problema dessa mídia é que ela aposta sempre na burrice. Não quer aceitar a premissa de que a população está conseguindo enxergar o que ela faz. Acha que se atirar contra os dois lados por algum tempo, conseguirá forjar a “bala de prata” com que pretende fulminar Dilma pouco antes da eleição presidencial deste ano.

*Como vocês sabem, para mim pefelista sempre será pefelista, pois “democratas” eles nunca foram e jamais serão.