“Peito de homem”
do excelente blog: Cidadania
A Folha parece mesmo decidida a dar trabalho ao seu ombudsman, Carlos Eduardo Lins da Silva. E o pior é que, se ele resolver aceitar fazer seu trabalho, a Folha poderá tirá-lo dele, afirmação que faço com base no histórico recente do jornal no trato com o ombudsman anterior.
Em sua última coluna dominical, o ombudsman da vez anotou uma boa série de desvios naquele tal equilíbrio jornalístico que a Folha tanto gosta de alardear que é um de seus paradigmas. A crítica dele não deixa dúvida quanto à opção político-partidária do jornal pela candidatura de José Serra à Presidência.
Na edição de hoje, o massacre opinativo naquele jornal tem ideologia e partido político. Todo mundo acusa Lula de estar fazendo campanha para Dilma Rousseff e, como contraponto, o jornal publica carta de leitor crítica ao veículo, só que sobre outro assunto, deixando ao leitorado só as acusações tucanas ao presidente e à ministra.
Todo o caderno de política de hoje foi voltado a vender a tese de que Lula e Dilma fazem campanha prematura, desdenhando da acusação do presidente de que Serra, como governador de São Paulo e diferentemente das autoridades federais, não tem por que participar de atos políticos em outros Estados e nem por que fazer publicidade oficial neles.
No resto da seção política, é Dilma que “ataca” a oposição enquanto faz campanha “prematura”. O caderno de política vende a acusação tucana em manchetes, mas, sobre a campanha que Serra faz tanto quanto Dilma – e ela faz, claro, como ele –, só se vê umas duas frases perdidas num caderno inteiro.
O atual ombudsman da Folha tem muito a dizer sobre partidarismo jornalístico, mas só se ele quiser e/ou se puder. Seu antecessor, Mário Magalhães, jogou o chapéu quando o jornal acabou com sua coluna diária na internet logo depois de o ex-ombudsman dizer que seu cargo era “Como peito de homem, que não serve para nada”.
Você, leitor, ficará confuso e se perguntará: “Será que eles acham que só com essa suposta ‘campanha prematura’ irão conseguir o que não conseguiram com todos os ataques ‘jornalísticos’ dos últimos seis anos?”. Engano seu, meu caro: não é isso o que a Folha e o resto da mídia querem.
A questão é o julgamento da ação que a oposição protocolou na Justiça Eleitoral para impedir Dilma de participar de eventos referentes à própria pasta, nos quais ela e o presidente fazem tantos discursos políticos quanto Serra.
Há que notar, porém, que os eventos de que Serra participa guardam uma fundamental diferença com aqueles dos quais participam o presidente e a ministra: o governador paulista não tem razão de Estado para participar deles.
Mas o ideal, sejamos honestos, seria que os dois lados se abstivessem de atividades políticas, já que a legislação não permite. Serra deveria ficar no Estado dele e Lula e Dilma deveriam parar de fazer discursos políticos nos eventos dos quais têm todo direito de participar.
Contudo, OS DOIS LADOS estão abusando do controle que exercem sobre o Estado, o que provavelmente fará a Justiça Eleitoral rejeitar tanto a reclamação do PSDB e do PFL contra Lula e Dilma quanto a que o PT fez contra Serra e que a mídia escondeu nos cantos de página enquanto levava a reclamação tucana às manchetes.
É isso que a mídia não entende. As pessoas estão aprendendo a ver esses detalhes, a raciocinar. A mídia acha, porém, que todos são burros. Ontem à noite, enquanto o Jornal Nacional vendia a acusação de Serra a Lula e a Dilma, nos intervalos uma propaganda do governo paulista, em tom apoteótico, falando de obras etc.
A mídia pensa que todo mundo é retardado. Ninguém nota. Daí vem a pesquisa sobre a popularidade de Lula e ela não entende por que o povo não lhe deu bola. Ficam todos indignados com "esse povo burro” que teima em não comprar o que vendem.
Agora, pessoal, é só esperar o próximo domingo para ver se o caro Carlos Eduardo Lins da Silva irá se comportar como “peito de homem” ou se terá peito, como homem, ao defender o público das manipulações de seu jornal. E não valerá a desculpa de não querer ser pautado, Carlos Eduardo. Trata-se de mero cumprimento do seu dever.
Ombudsman da Folha - coluna de 15 / 02 / 2009
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVAombudsman@uol.com.br
A Folha e os problemas de São Paulo
O jornal deixa muito a desejar em relação ao que se espera do maior diário paulista na cobertura de temas como exame de professores e merenda
A CIDADE e o Estado de São Paulo, onde este jornal tem a maioria absoluta de seus assinantes e leitores, começam 2009 com problemas sérios.
A maneira com que a Folha os vem tratando deixa muito a desejar em relação ao que se pode esperar do maior diário paulista.
Um deles é o exame a que foram submetidos professores temporários da rede estadual de ensino público, no qual número expressivo tirou nota zero e metade não chegou a cinco.
Como na greve da categoria em 2008, o jornal trata do caso superficialmente. Reproduz declarações das autoridades e, em contraponto, ouve mecanicamente o sindicato dos trabalhadores.
O "outro lado" não é o sindicato, mas os professores, cujas histórias não chegam ao público. O jornal não vai fundo nem nas causas de haver tantos professores provisórios no sistema nem nas razões por que muitos se deram mal na prova.
As condições em que o teste foi concebido, formulado e aplicado (há indícios de que estiveram longe do ideal) não foram detalhadas.
O noticiário e opiniões do jornal acabaram passando a ideia de que a "culpa" do mau desempenho é apenas dos professores, mostrados como em geral despreparados. É claro que a explicação é muito mais complexa.
Outra situação é a da merenda escolar no município de São Paulo. Embora em 2007 a Folha tenha levantado o tema que agora está sendo retomado pelo Ministério Público, seu acompanhamento neste ano tem sido pouco arrojado.
O jornal precisa ser mais ativo. Em vez de quase se limitar ao pingue-pongue entre prefeitura e seus acusadores deve tomar a iniciativa de, por exemplo, verificar autonomamente a qualidade da merenda, pesquisar se pais, professores e alunos estão satisfeitos com ela em comparação com a que tinham antes.
O tema merece mais espaço, destaque e investimento do que tem recebido. Houve dia em que o noticiário sobre ele teve o mesmo tamanho de uma foto que mostrava as calças de um calouro estragadas em trote universitário.
Os paulistas, principalmente os paulistanos, estão sofrendo bastante com enchentes. Mas o jornal tem cuidado delas de forma acanhada. Relata os alagamentos que ocorrem, publica fotos de carros boiando nas ruas, conta os quilômetros de congestionamento. É muito pouco
No dia 10, por exemplo, reportagem registrou que a prefeitura "espera o pior fevereiro desde 2004" e fará novo estudo de riscos só depois do período de chuvas.
A placidez com que acata tal declaração só se compara com a aceitação passiva do argumento de que a prefeitura tapa os buracos "sempre que é informada". Ambas são constrangedoras.Nada de jornalismo preventivo. Nada de acompanhamento sistemático das providências que as autoridades dizem tomar.
Finalmente, a erupção de violência na favela de Paraisópolis, cujo acompanhamento anódino por este jornal já comentei, não o motiva a se aprofundar no exame desta e de outras comunidades em que a expressão "barril de pólvora" se aplica bem, apesar do lugar-comum. Até acontecer a próxima explosão.
Cobertura enviesada é um desserviço a leitor e jornal
A cobertura que a Folha fez do encontro de prefeitos em Brasília esta semana foi um desserviço ao leitor e ao jornal.
Textos, fotos e edição tinham todas as características de um trabalho enviesado, distante da imparcialidade que deve nortear o noticiário.
Imagens da ministra Dilma Rousseff com expressão sonolenta e de membro da audiência que cochilava ressaltaram sem motivo jornalístico aceitável situação banal em qualquer reunião desse tipo com o aparente objetivo de desqualificar o evento por razão irrelevante.
Reportagem disse que "pacote de bondades" anunciado pelo presidente Lula frustrou "parte da plateia", seguramente verdade, mas não mencionou se satisfez alguma outra "parte", o que provavelmente também deve ter ocorrido.
Cheios de expressões impróprias em texto informativo, os relatos denotavam inegável predisposição contrária ao discurso do presidente.
Mais grave foi dar inusitado destaque por dois dias seguidos a um lapso corriqueiro de Lula sobre o número de analfabetos em São Paulo como se ele pudesse criar uma crise política, o que nem o possível alvo do suposto ataque, o governador Serra, achou certo valorizar.
do excelente blog: Cidadania
A Folha parece mesmo decidida a dar trabalho ao seu ombudsman, Carlos Eduardo Lins da Silva. E o pior é que, se ele resolver aceitar fazer seu trabalho, a Folha poderá tirá-lo dele, afirmação que faço com base no histórico recente do jornal no trato com o ombudsman anterior.
Em sua última coluna dominical, o ombudsman da vez anotou uma boa série de desvios naquele tal equilíbrio jornalístico que a Folha tanto gosta de alardear que é um de seus paradigmas. A crítica dele não deixa dúvida quanto à opção político-partidária do jornal pela candidatura de José Serra à Presidência.
Na edição de hoje, o massacre opinativo naquele jornal tem ideologia e partido político. Todo mundo acusa Lula de estar fazendo campanha para Dilma Rousseff e, como contraponto, o jornal publica carta de leitor crítica ao veículo, só que sobre outro assunto, deixando ao leitorado só as acusações tucanas ao presidente e à ministra.
Todo o caderno de política de hoje foi voltado a vender a tese de que Lula e Dilma fazem campanha prematura, desdenhando da acusação do presidente de que Serra, como governador de São Paulo e diferentemente das autoridades federais, não tem por que participar de atos políticos em outros Estados e nem por que fazer publicidade oficial neles.
No resto da seção política, é Dilma que “ataca” a oposição enquanto faz campanha “prematura”. O caderno de política vende a acusação tucana em manchetes, mas, sobre a campanha que Serra faz tanto quanto Dilma – e ela faz, claro, como ele –, só se vê umas duas frases perdidas num caderno inteiro.
O atual ombudsman da Folha tem muito a dizer sobre partidarismo jornalístico, mas só se ele quiser e/ou se puder. Seu antecessor, Mário Magalhães, jogou o chapéu quando o jornal acabou com sua coluna diária na internet logo depois de o ex-ombudsman dizer que seu cargo era “Como peito de homem, que não serve para nada”.
Você, leitor, ficará confuso e se perguntará: “Será que eles acham que só com essa suposta ‘campanha prematura’ irão conseguir o que não conseguiram com todos os ataques ‘jornalísticos’ dos últimos seis anos?”. Engano seu, meu caro: não é isso o que a Folha e o resto da mídia querem.
A questão é o julgamento da ação que a oposição protocolou na Justiça Eleitoral para impedir Dilma de participar de eventos referentes à própria pasta, nos quais ela e o presidente fazem tantos discursos políticos quanto Serra.
Há que notar, porém, que os eventos de que Serra participa guardam uma fundamental diferença com aqueles dos quais participam o presidente e a ministra: o governador paulista não tem razão de Estado para participar deles.
Mas o ideal, sejamos honestos, seria que os dois lados se abstivessem de atividades políticas, já que a legislação não permite. Serra deveria ficar no Estado dele e Lula e Dilma deveriam parar de fazer discursos políticos nos eventos dos quais têm todo direito de participar.
Contudo, OS DOIS LADOS estão abusando do controle que exercem sobre o Estado, o que provavelmente fará a Justiça Eleitoral rejeitar tanto a reclamação do PSDB e do PFL contra Lula e Dilma quanto a que o PT fez contra Serra e que a mídia escondeu nos cantos de página enquanto levava a reclamação tucana às manchetes.
É isso que a mídia não entende. As pessoas estão aprendendo a ver esses detalhes, a raciocinar. A mídia acha, porém, que todos são burros. Ontem à noite, enquanto o Jornal Nacional vendia a acusação de Serra a Lula e a Dilma, nos intervalos uma propaganda do governo paulista, em tom apoteótico, falando de obras etc.
A mídia pensa que todo mundo é retardado. Ninguém nota. Daí vem a pesquisa sobre a popularidade de Lula e ela não entende por que o povo não lhe deu bola. Ficam todos indignados com "esse povo burro” que teima em não comprar o que vendem.
Agora, pessoal, é só esperar o próximo domingo para ver se o caro Carlos Eduardo Lins da Silva irá se comportar como “peito de homem” ou se terá peito, como homem, ao defender o público das manipulações de seu jornal. E não valerá a desculpa de não querer ser pautado, Carlos Eduardo. Trata-se de mero cumprimento do seu dever.
Ombudsman da Folha - coluna de 15 / 02 / 2009
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVAombudsman@uol.com.br
A Folha e os problemas de São Paulo
O jornal deixa muito a desejar em relação ao que se espera do maior diário paulista na cobertura de temas como exame de professores e merenda
A CIDADE e o Estado de São Paulo, onde este jornal tem a maioria absoluta de seus assinantes e leitores, começam 2009 com problemas sérios.
A maneira com que a Folha os vem tratando deixa muito a desejar em relação ao que se pode esperar do maior diário paulista.
Um deles é o exame a que foram submetidos professores temporários da rede estadual de ensino público, no qual número expressivo tirou nota zero e metade não chegou a cinco.
Como na greve da categoria em 2008, o jornal trata do caso superficialmente. Reproduz declarações das autoridades e, em contraponto, ouve mecanicamente o sindicato dos trabalhadores.
O "outro lado" não é o sindicato, mas os professores, cujas histórias não chegam ao público. O jornal não vai fundo nem nas causas de haver tantos professores provisórios no sistema nem nas razões por que muitos se deram mal na prova.
As condições em que o teste foi concebido, formulado e aplicado (há indícios de que estiveram longe do ideal) não foram detalhadas.
O noticiário e opiniões do jornal acabaram passando a ideia de que a "culpa" do mau desempenho é apenas dos professores, mostrados como em geral despreparados. É claro que a explicação é muito mais complexa.
Outra situação é a da merenda escolar no município de São Paulo. Embora em 2007 a Folha tenha levantado o tema que agora está sendo retomado pelo Ministério Público, seu acompanhamento neste ano tem sido pouco arrojado.
O jornal precisa ser mais ativo. Em vez de quase se limitar ao pingue-pongue entre prefeitura e seus acusadores deve tomar a iniciativa de, por exemplo, verificar autonomamente a qualidade da merenda, pesquisar se pais, professores e alunos estão satisfeitos com ela em comparação com a que tinham antes.
O tema merece mais espaço, destaque e investimento do que tem recebido. Houve dia em que o noticiário sobre ele teve o mesmo tamanho de uma foto que mostrava as calças de um calouro estragadas em trote universitário.
Os paulistas, principalmente os paulistanos, estão sofrendo bastante com enchentes. Mas o jornal tem cuidado delas de forma acanhada. Relata os alagamentos que ocorrem, publica fotos de carros boiando nas ruas, conta os quilômetros de congestionamento. É muito pouco
No dia 10, por exemplo, reportagem registrou que a prefeitura "espera o pior fevereiro desde 2004" e fará novo estudo de riscos só depois do período de chuvas.
A placidez com que acata tal declaração só se compara com a aceitação passiva do argumento de que a prefeitura tapa os buracos "sempre que é informada". Ambas são constrangedoras.Nada de jornalismo preventivo. Nada de acompanhamento sistemático das providências que as autoridades dizem tomar.
Finalmente, a erupção de violência na favela de Paraisópolis, cujo acompanhamento anódino por este jornal já comentei, não o motiva a se aprofundar no exame desta e de outras comunidades em que a expressão "barril de pólvora" se aplica bem, apesar do lugar-comum. Até acontecer a próxima explosão.
Cobertura enviesada é um desserviço a leitor e jornal
A cobertura que a Folha fez do encontro de prefeitos em Brasília esta semana foi um desserviço ao leitor e ao jornal.
Textos, fotos e edição tinham todas as características de um trabalho enviesado, distante da imparcialidade que deve nortear o noticiário.
Imagens da ministra Dilma Rousseff com expressão sonolenta e de membro da audiência que cochilava ressaltaram sem motivo jornalístico aceitável situação banal em qualquer reunião desse tipo com o aparente objetivo de desqualificar o evento por razão irrelevante.
Reportagem disse que "pacote de bondades" anunciado pelo presidente Lula frustrou "parte da plateia", seguramente verdade, mas não mencionou se satisfez alguma outra "parte", o que provavelmente também deve ter ocorrido.
Cheios de expressões impróprias em texto informativo, os relatos denotavam inegável predisposição contrária ao discurso do presidente.
Mais grave foi dar inusitado destaque por dois dias seguidos a um lapso corriqueiro de Lula sobre o número de analfabetos em São Paulo como se ele pudesse criar uma crise política, o que nem o possível alvo do suposto ataque, o governador Serra, achou certo valorizar.
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