Viver em São Paulo não se limita a conviver com calamidades como o colapso de obras de bilhões de reais superfaturadas e com as milionárias comissões embolsadas pela equipe de Serra, como a que deveria impedir que o rio Tietê transbordasse e que terminam por desabrigar milhares de famílias, as quais, depois, serão espancadas pela polícia quando forem protestar diante das autoridades. Pobre, em São Paulo, tem que temer por sua vida não só por conta de incompetência do governo local em lidar com fenômenos previsíveis da natureza que em dois meses matam quase cem. Pobre – e negro –, em São Paulo, tem que temer ameaças à própria vida vindas dos dois lados da lei. Não é um caso isolado o de mais esse motoboy paulista que acaba de ser espancado até a morte pela polícia ao chegar em casa. Poucos dias antes, um congênere de profissão daquele pobre coitado também foi espancado até que não lhe restasse um único sopro de vida no corpo estraçalhado pela violência policial. As pessoas pobres – e, preferencialmente, negras – de São Paulo, mesmo sendo honestas sabem do cuidado que devem ter com a polícia, e tanto faz se for polícia militar, civil ou metropolitana. Porque impera, em São Paulo, uma força de repressão a uma população que sofre com condições de vida dignas de países pobres de África, mesmo sendo o Estado mais rico da Federação e com um PIB que equivale aos de muitos países.A vida dos pobres paulistas é dura, injusta, desoladora. E o governo Serra é um de seus maiores algozes. Deixa uma polícia totalmente despreparada, mal paga e corrompida até o âmago impor terror nas periferias para que estas populações se mantenham dóceis diante de uma casta que impera debochando da pobreza e da miséria com seus carros de alto luxo, com suas jóias e com seus clubes de dissipação e de perversões das mais variadas. Esse pobre diabo estraçalhado pelas mãos de feras humanas diante da própria mãe, em outros tempos, quando este país mal dava os primeiros passos no século XX, seria santificado, viraria mito. Hoje, daqui a uma semana não se lembrarão mais dele, além da família e dos amigos. Os outros como ele, nos guetos vizinhos, sabem que muitos entre si terão o mesmo destino. Então não se importam. É rotina, nesta terra tão rica e injusta. Vivemos, por aqui, no século XIX. Negros têm o pescoço torcido como o de uma galinha nas mãos de forças de repressão de massas tanto quanto tinham antes da libertação dos escravos naquele distante 1888. O país não pára por conta disso. Elegem-se bodes expiatórios dois comandantes das forças de repressão,tiram o do governador Serra da reta, e fica tudo certo. O negro pobre de vinte e poucos anos vira um número. A família ganha um cala-boca do governador e acaba se conformando, porque, em São Paulo, dinheiro compra qualquer coisa. Até a memória de um filho. Porque o povo pobre daqui vota, automaticamente, sempre nos mesmos. Enquanto aguarda o começo do jogo de futebol na tevê ou chegar à seção de esportes dos jornais, dá uma olhada no noticiário político e capta a mensagem subliminar de que deve votar nos políticos que pouco – ou nada – viu aqueles meios de comunicação criticarem. Já os ricos, ah!, estes, sim, sabem exatamente o que estão fazendo, ao votarem. Sabem que devem votar sempre nos mesmos porque são eles que mantêm os pobres conformados intoxicando-os com mulheres seminuas rebolando na tevê e campeonatos de futebol cantados em verso e prosa nas páginas de esporte dos jornais. Os veículos (o PIG), que mantêm o povo paulista manso desse jeito pertencem aos amigos daqueles políticos nos quais São Paulo sempre vota e com os quais os barões da mídia paulista dividem muito mais do que interesses mais evidentes, pois uns e outros se freqüentam, namoram entre si
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